Morreu Roberto Civita. Morreu de câncer, ainda que a mídia
demo-tucana não diga. E não diz porque não pode, ou porque dizer envolve
uma lição de vida que a deprecia. A lição? Ora, não comemore o
sofrimento de seus inimigos porque a fragilidade humana nos une a todos.
Minha hora chegará, como chegou para Civita. Porém, estou tranquilo.
Enquanto ele esteve doente eu jamais fiz o que ele fez com Lula
através de seus blogueiros e colunistas amestrados, que ironizaram a
doença do ex-presidente e deram curso a uma onda de frases hediondas que
comemoravam seu câncer, hoje tido como curado.
Reinaldo Azevedo, um dos autômatos de Civita, foi particularmente
cruel ao mandar o ex-presidente se tratar no SUS por ter elogiado o
sistema durante seu governo. Quantos outros políticos elogiaram as
próprias obras na saúde pública e jamais foram alvo dessa ironia?
O ex-tucano Mario Covas, por exemplo, elogiou a própria obra na saúde
pública quando era governador de São Paulo e nem por isso a Veja e
assemelhados o mandaram se tratar no SUS paulista. E muito menos o PT,
que se solidarizou com ele.
Todos aqueles que não perdoaram Lula nem quando estava tão
fragilizado, ainda que eu não acredite nisso deveriam refletir sobre a
morte recente daquele que pagava o tal Azevedo para fazer coisas como
aquelas – digo “pagava” porque, agora, não paga mais nada, ao menos
nesta vida.
Não se comemora a doença ou a morte de semelhantes. Falar mal de
Civita por sua obra à frente de seu império editorial, neste momento,
não é a minha praia. Este é um momento de dor para os seus familiares.
Contudo, falar sobre como ele tratou o sofrimento de seus inimigos
políticos faz todo sentido – e, como se sabe, o que faziam e continuam
fazendo seus hoje ex-empregados era e é produto de sua visão de mundo,
enquanto estava nele.
Mas a morte do ex-barão da imprensa tem um sentido mais amplo. Civita
foi um homem tido como muito poderoso, do alto de seus bilhões de
dólares e de seu império descomunal. Contudo, não queiram ver como todo
esse poder se tornou nada, ao fim.
Não é bonito ver um ser humano agonizar, mas é necessário. Só assim
nos damos conta do que somos, ou do que não somos. E o que nenhum de nós
jamais será é “poderoso”, pois Poderoso só é Deus, para quem acredita
Nele como eu.
E, para quem não acredita em Deus ou deuses, ninguém é poderoso.
Somos todos seres frágeis como uma flor ou um fio de cabelo.
Falíveis, débeis, assustados com a nossa própria debilidade humana e com
a nossa ínfima pequenez diante do desconhecido, ainda que alguns de nós
queiram passar uma ideia diferente.
Lamento, porém, a morte de Civita. Tinha muitas críticas a lhe fazer
e, agora, não tenho mais simplesmente porque ele deixou de existir.
Posso criticar a obra, mas não o autor. Ele está fora do alcance de
mortais como eu ou você que me lê.
Descanse em paz, portanto, Roberto Civita.
Texto de Eduardo Guimarães
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