sexta-feira, 8 de junho de 2012

Há 15 anos Guga ganhava o primeiro Roland Garros

Sensacional Guga. Esse título de Rolando Garros, o primeiro aberto da França dele, merece um texto "enciclopédico" do fato. Vamos lá!

Guga 3x0 Slava Doesedel (TCH) – 27/05/1997
O primeiro ato

Dia 27 de Maio a data que se iniciará a edição 2007 de Roland Garros, também marcou o início da gloriosa campanha de Gustavo Kuerten rumo ao primeiro título do Aberto da França.

Guga vinha do título de um challenger em Curitiba com bom ritmo de jogo e animado para a conquista da primeira vitória em Roland Garros (no ano anterior havia furado o quali e perdido na estréia). O sonho daquele jovem desengonçado de cabelos longos roupa amarela e azul bem chamativa começou na quadra 7. Gustavo Kuerten enfrentava pela terceira vez na carreira o tcheco Slava Dosedel, então 73o. do mundo, apenas sete postos abaixo de Kuerten no ranking.

O primeiro ato em Paris não durou tanto, apenas 1h35min. Com muita autoridade, Guga aplicou 6/0 7/5 6/4, comemorando seu primeiro triunfo sobre o rival. Foi um domínio total sobretudo no primeiro set. Ao todo o brasileiro marcou 36 winners contra apenas 15 do rival.

Era apenas a segunda vez que ele chegava a uma segunda rodada de um Grand Slam e as esperanças de uma campanha um pouco melhor estavam acesas. O próximo duelo, um compromisso difícil: Jonas Bjorkman, 23o. do mundo.

Guga 3x1 Jonas Bjorkman (SUE) – 29/05/1997
Salve os 7 match-points!

Dois dias após o primeiro triunfo de Guga, a torcida brasileira compareceu e fez mais uma festa. Guga enfrentava o sueco Jonas Bjokman, entre os 30 melhores do mundo, em franca ascenção, que estava em seus melhores dias no circuito, favorito e que usaria todo seu jogo agressivo com bom saque e voleio, sempre indo pra frente.

Mas, como o proprio Guga resumiu, a partida foi “mais fácil do que esperava”. O brasileiro chegou a se complicar, perdeu 7 match-points, um deles com um smash na mão, mas fechou após subir à rede e ver o adversário jogar a passada pra fora. O resultado de 6/4 6/2 4/6 7/5 poderia até ser melhor. Guga teve 4/1 no terceiro set, mas titubeou e deixou Bjorkman virar.

Classificação inédita para a terceira rodada de um Grand Slam e um “osso duro de roer” pela frente, Thomas Muster, campeão de 1995.

Guga 3x2 Thomas Muster (AUT) – 31/05/1997
Ave Fênix!

Thomas Muster, austríaco número cinco do mundo, também quinto favorito ao título de Roland Garros era “o cara” no saibro na época. Havia conquistado 44 títulos na carreira, a maioria no piso lento, foi o número 1 do mundo um ano antes e já tinha conquistado o troféu em Paris uma vez em 1995. Era todo um cenário para Guga sair derrotado. Mas, o dia era de surpresa. E surpresa favorável para o Brasil. Que bom!

O jogo foi o primeiro de muitos dramas vividos por Kuerten nessa campanha. Estava tudo sobre controle. O brasileiro, vencia o quarto set por 3/1 e a partida por 2 sets a 1 e ainda teve chances de ampliar a vantagem. Mas, Muster começou a usar sua experiência para reverter a situação. Empatou o duelo, e ainda abriu 3/0 na negra. Mesmo assim, quando todos pensavam que era o fim, “o fênix” Guga ressurgiu das cinzas, botou o coração na ponta da raquete e virou uma partida espetacular com 3h08min de duração. Ufa! Guga 6/7 (7/3) 6/1 6/3 3/6 6/4.

Os números da partida mostraram que os ataques de Guga foram mais eficientes do que a passividade do rival. O brasileiro cometeu 83 erros não-forçados contra 48 de Muster. Em contra-partida foram 51 winners contra 32. A prova de que o ataque fez a diferença neste duelo.

Guga 3x2 Andrei Medvedev (UCR) – 02/06/2007
A Batalha de dois dias

Depois de bater na primeira rodada o tcheco Slava Dosedel, Guga tinha pela frente mais um tenista do leste europeu. Dessa vez o robusto e mais forte ucraniano Andrei Medvedev, então 20o. colocado do ranking, dono de um poderoso saque e sólido jogo com bons golpes da linha de base. A fase do “grandalhão” de 1,93m era boa. Então número 4 do mundo ele acabara de vencer o Super 9 de Hamburgo (agora chamado de Masters Series), um dos mais importantes eventos de saibro antes do torneio parisiense.

A partida, disputada na quadra Suzane Lenglen, a segunda mais importante de Rolando Garros, começou na tarde do dia 2 e teve que ser paralisada após duas horas e dezesseis minutos por falta de luz natural (em Roland Garros nenhuma quadra possui iluminação artificial para prosseguimento do jogo à noite). O jogo estava um tanto estranho. Cada set para um tenista. Medvedev abriu 7/5, Guga foi bem nos dois seguintes com 6/1 6/2 e o ucraniano despachou 6/1 no quarto. O fim do dia mostrou 2/2 no score.

Na continuação da partida, Guga começou com tudo, abriu 4/2 e parecia sob controle. Mas, a situação mudou. Ele sofreu o empate 4/4 e tinha 0/40 no saque. Quando tudo parecia ir por água abaixo novamente, Kuerten foi pra cima, soltou o braço, igualou o game fez 5/4 e fechou mais à frente por 7/5. Considerando um jogo de cinco sets no saibro, não foi tão longo. Duas horas e quarenta e cinco minutos. Guga fez 7 aces, porém cometeu 7 duplas-faltas e quebrou 8 vezes o saque do adversário em 22 oportunidades.

O ato seguinte seria contra o atual campeão de 1996, o russo Yevgeny Kafelnikov.

Guga 3x2 Yevgeny Kafelnikov (RUS) 04/06/1997
Adeus, Kafelnikov!

Pela primeira vez Gustavo Kuerten pisava na quadra central do complexo de Roland Garros. A quadra que hoje é chamada de Phillipe Chartrier. Guga não só botou seus pés ali pela primeira vez, ele fez uma verdadeira pintura. “Monsieur Gugá” realizou o que foi chamada a melhor partida do ano diante do russo Yevgeny Kafelnikov, atual campeão do Aberto da França, franco favorito e terceiro cabeça-de-chave na competição.

A partida novamente foi à cinco sets e Guga resistiu a uma nova epopéia de duas horas e trinta minutos. Logo no primeiro game, o catarinense quebrou e levou o público ao delírio ao dar uma finta no russo em jogada curta na rede. Com um backhand winner Guga fechou o primeiro set e fez o público, que lotou as dependências do estádio vibrar outra vez: 6/2 para o brasileiro com duas quebras à frente.

Guga teve atrás no segundo set em 5/3, se recuperou 5/5, chegou a ter chances de quebra, mas o russo foi à rede, sacou bem marcou 6/5 e no game seguinte fechou por 7 a 5, empatando o jogo. O terceiro set também foi desfavorável ao catarinense. “Café no Copo”, como o próprio Kuerten chamava, embalou, abriu 3/1 e voltou a quebrar no último game para fazer 6/2. Era a primeira vez que Guga se via tendo que virar o placar na competição em seu quinto jogo.

Nada de sustos. Parece que o favorito relaxou. De mansinho o brasileiro saiu quebrando e quando se deu conta tinha 4/0 e continuou humilhando o adversário para aplicar um sonoro “pneu”, que na gíria do tênis se aplica quando um tenista não consegue fazer um game sequer, ou seja : 6/0. Veio então o set decisivo. Nervos à flor da pele. Guga saiu com 2/0 e a partir daí um jogo disputadíssimo com muita “pancadaria” do fundo de quadra e equilíbrio. O brasileiro abriu 5/4 e foi para o serviço. Tensão na arquibancada. Poderia ser mais uma zebra! Kafelnikov deu esperanças à sua torcida. Chegou a 30/40, um break-point, mas...Guga desferiu dois potentes saques seguidamente. Salvamos! No primeiro match-point, ótimo saque de novo – Game, Set, and Match Kuerten! - 6/2 5/7 2/6 6/0 6/4. Vaga na semifinal. O estrago já estava feito ? Não, ainda vinha mais pela frente!

Um dado interessante. Guga nesse dia se tornava o primeiro brasileiro a ir para uma semifinal em Roland Garros, superando Thomaz Koch que perdeu nas quartas em 1968 para o australiano Ken Roswall.

Guga 3x1 Filip Dewulf (BEL) – 06/06/1997
A revanche!

Esse jogo tinha cara de revanche. Não por Guga, mas sim por Fernando Meligeni, o melhor tenista brasileiro no ranking até Roland Garros começar. O modesto Filip Dewulf também vinha como zebra. Apenas o 122o. Colocado no ranking ele teve que disputar mais três jogos do qualifying, portanto chegava a seu nono jogo em Paris. E não é que o cara aprontou pra cima de Meligeni justo na segunda rodada ? Isso. Lá ele venceu em cinco sets, mas depois Guga tomou as dores do companheiro.

O brasileiro não fez sua melhor partida no torneio. Ele demonstrava infinita superioridade sobre o belga no aspecto técnico, mas como o próprio admitiu na época, o emocional estava comprometido. Alías, chegar a semifinal de um Grand slam com apenas 20 anos, não era tarefa fácil.

Mas o duelo começou bem para Kuerten. Ele fechou o primeiro set sem problemas por 6/1, mas acusou o golpe do nervosismo logo em seguida. Levou 6/3 na segunda parcial. Em seguida outro passeio de “Gugá”, repetindo o score do primeiro set. O quarto foi bem duro, muito equilíbrio e tie-break, o segundo de Guga no campeonato. E dessa vez a sorte estava do nosso lado. Faltando pouco para terminar, um lance “dos Deuses”. Aquela típica bola que pinga na rede e caí a nosso favor. Ponto Guga, match-point, fim de jogo: 7/6 (7/4). Guga na final! - 6/1 3/6 6/1 7/6 (7/4) – Duas horas e catorze minutos de partida.

Guga 3x0 Sergi Bruguera (ESP) – 08/06/1997
É campeão!!!

Ninguém poderia imaginar um jogo de final tão fácil, depois de tudo que Guga passou no torneio, pela possível pressão que sentiria por ser jovem e já estar em uma final de Grand Slam. Pois é, ninguém imaginou a não ser Guga que jogou tudo e mais um pouco.

Bruguera era mais um “Rei do Saibro”. Bicampeão em Paris nos anos de 1993 e 1994, número 19 do mundo, 16o. cabeça-de-chave, típico espanhol que joga com bolas altas do fundo buscando sempre o erro do adversário.

16 mil pessoas lotaram as dependências da quadra central em Roland Garros e vibraram com os backhands paralelos, as direitas vencedoras, o potente saque do “surfista do saibro”. Guga protagonizou um verdadeiro balé e despachou Bruguera com 6/3 6/4 6/2.

Após a inédita conquista, ele subiu as escadarias do estádio, foi aos braços de seu técnico Larri Passos onde ficou um bom tempo abraçado com ele. Fez o mesmo com seu irmão, Rafael Kuerten e sua mãe, Alice Kuerten. Era a glória de um menino prodígio que encantou o mundo com um jeito “desleichado” e com o coração muito grande.

Na hora de receber o troféu, mais um momento épico. O troféu foi entregue por Bjorn Borg, nada mais nada menos que o maior vencedor de Roland Garros com seis conquistas 1974, 1975 1978, 1979, 1980, 1981.

Guga comemorou o título com muito champagne e entrou para a história do tênis brasileiro e mundial, como primeiro não cabeça-de-chave a vencer em Paris. Ao todo ele derrubou todos os últimos quatro campeões – Bruguera (93/94), Muster (95) e Kafelnikov (96).

NÚMEROS

Campanha:

1a. rodada: Gustavo Kuerten (BRA) 3x0 Slava Dosedel (TCH) 6/0 7/5 6/4
2a. rodada: Gustavo Kuerten (BRA) 3x1 Jonas Bjorkman (SUE) 6/4 6/2 4/6 7/5
3a. rodada: Gustavo Kuerten (BRA) 3x2 Tomas Muster (AUT) 6/7 (7/3) 6/1 6/3 3/6 6/4
Oitavas de Final: Gustavo Kuerten (BRA) 3x2 Andrei Medvedev (UCR) 5/7 6/1 6/2 1/6 7/5
Quartas de Final: Gustavo Kuerten (BRA) 3x2 Yevgeny Kafelnikov (RUS) 6/2 5/7 2/6 6/0 6/4
Semi Final: Gustavo Kuerten (BRA) 3x1 Filip Dewulf (BEL) 6/1 3/6 6/1 7/6 (7/4)
Final: Gustavo Kuerten (BRA) 3x0 Sergi Bruguera (ESP) 6/3 6/4 6/2

Total sets jogados: 29 – Venceu 21 perdeu 8
Total games jogados: 269 – Venceu 159 perdeu 110
Total Aces: 69
Total Duplas Faltas: 34
Total Quebras: 41 em 128 chances (32,03 % de aproveitamento)
Games de Saque do oponente jogados: 133
Aproveitamento de quebras: 30,82 %
Games de saque jogados: 134
Aproveitamento de Aces: 51,49% (0,5 aces a cada game de saque)
Total Pontos Ganhos: 905
Premiação Total: US$ 644.006
Total Primeiro Serviço: 943
Primeiros serviços dentro: 522
Aproveitamento de Primeiro Serviço: (55,35 %) Por fim, um video da partida contra Thomas Muster:

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