Sensacional da Formula 1 de Interlagos. Vettel merece mais do que qualquer um o título. Terceiro título em seguida, na verdade.
Acompanhem comigo o belíssimo texto do jornalista Flávio Gomes, sobre essa prova.
Vettel não estava num bom dia hoje, coitado. O adversário queria o caos. Ele, apenas um dominguinho tranquilo, daqueles de almoçar na sogra, comer um pudim, ver o Faustão e, depois, um futebolzinho. De noite, uma pizza sem inventar muito, meia aliche, meia mussarela, uma olhada nos gols do Fantástico e cama.
Mas Alonso tem pacto com o capeta. Foi ontem à noite a um pai-de-santo e comprou o pacote Platinum — caro, diga-se, ainda mais para estrangeiros, que pagam em euro (cartão, só de débito). Tinha as opções do Silver (chuva, pit stop demorado e drive-through), Gold (garoa, defeito no KERS, indisposição estomacal, pneu furado), Gold Plus (os itens anteriores, mais dividir freada com Maldonado e primeira volta perto do Grosjean). Mas foi direto no Platinum, que deixou o pai-de-santo assustado. “Precisa de tudo isso, mizifio?”. “Todo, señor padre-de-santo. Hace todo, lo pacôte complêto, sien dó, quiero todo.”
“Hómi ruim”, pensou o pai-de-santo, e encomendou o trabalho completo, o Platinum — algo que nem aquele outro piloto meio calvo cujo nome ele já não lembrava pediu para o outro queixudo alguns anos atrás. Esse pacote, que o guia espiritual achava que ficaria encalhado para o resto da vida, um erro de marketing, continha chuva dez minutos antes do início, largada ruim, espremida do companheiro de equipe, batida por trás na primeira volta, ficar na contramão de frente para o Petrov e o Karthikeyan, cair para último, pista seca e depois molhada de novo, rádio defeituoso, pit stop na hora errada, demora para trocar pneu, disputa com Kobayashi debaixo de tempestade e pódio garantido para o contratante.
Alonso saiu do terreiro certo de ter feito um bom investimento, ainda mais quando soube, por Schumacher, que o serviço era garantido. Foi Michael quem indicou. “Comprei o Silver dois anos seguidos, não era muito caro, tinha só pane hidráulica e pane seca, na época essas coisas eram mais simples, mas funcionou muito bem”, contou o alemão no jantar, ontem à noite, e passou o cartão amarfanhado do pai-de-santo para o espanhol, onde se lia, também, num inglês meio tosco, “I bring your love back in two days or you money is devolved”.
Bem, o piloto da Ferrari não pode reclamar da execução do trabalho. O pai-de-santo entregou tudo direitinho, exatamente como prometia o pacote Platinum. Só não contava com a incrível persistência da vítima escolhida, que resistiu à espremida do companheiro, à batida do desastrado brasileiro, aos barbeiros de frente para ele na contramão, ao mau trabalho da equipe na parada, ao rádio que deixou de funcionar, à chuva, a tudo.
Sebastian Vettel passou por cima de todos os azares que um candidato a título pode ter numa única corrida. Chegou em sexto. Alonso foi o segundo, tendo ganhado o posto por cortesia — natural — do companheiro. Button venceu, por ter sido, ao lado de Hülkenberg, mais uma vez, o cara que entendeu melhor a hora de colocar pneu de chuva e voltar para slicks. Quase um paulistano, esse Button. Hülk quase ganhou, mas bateu em Hamilton, foi punido e terminou numa gloriosa quinta posição.
Alonso, El Reclamón de Las Astúrias, fez um campeonato excepcional. O melhor de sua vida, provando que é possível executar um bom omelete sem ovos. Perdeu o título em dois acidentes sobre os quais não teve controle algum. Ficou a três pontos do alemãozinho, que se tornou o mais jovem tricampeão de todos os tempos, 25 anos, colocando-se ao lado de Fangio e Schumacher no seletíssimo clube de pilotos que venceram três campeonatos seguidos.
Interlagos fez uma decisão digna de sua história e da história da F-1. Uma corrida fantástica, definida por Nelson Piquet, no pódio, como a mais emocionante que viu na vida. Um espetáculo.
O esporte determina que só pode haver um campeão. OK, ficou com Vettel, que merece todos os elogios do mundo. É um fenômeno. Pela juventude, carisma, frieza, capacidade, simpatia. Se ficasse com Alonso o título, também estaria OK: combativo, persistente, talentoso, forte, líder.
Mas é só um que leva. Ao vencedor, as batatas. Ao perdedor, os aplausos. E ficamos todos bem.
http://flaviogomes.warmup.com.br/2012/11/tri-in-sampa-22/
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
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