sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Dia Nacional da Liberdade de Expressão

Hoje é o Dia Nacional da Liberdade de Expressão. Existe o dia internacional, que é dia 3 de maio.
Mas acho mais importante celebrar o nacional.

Para relembrar o dia, vou transcrever uma passagem da história conhecida por alguns, que foi a deportação de Caetano Veloso e Gilberto Gil, na época da ditatura militar.
O  texto foi escrito por Gabril Dread e conta tudo, desde a criação de Os Mutantes. É uma parte da história "democrática" brasileira (e internacional), e também um arquivo musical. Vale a pena ler:

Vocês não estão entendendo nada, ou Os Mutantes no pais da Tropicália 

Em 1964, os irmãos Arnaldo Baptista e Cláudio César Dias Baptista, juntamente com Raphael Vilardi e Roberto Loyola, fundaram o grupo The Wooden Faces. Um ano depois, conheceram e convidaram Rita Lee - então no Teenage Singers - a integrar a banda. Ainda entraria no grupo Sérgio, o caçula na família Baptista. A nova banda passou a se chamar Six Sided Rockers, depois O Conjunto e O´Seis.
Em 1966, como está escrito na Bíblia da Internet Wikipedia, eles gravaram compacto simples pela Continental com as composições "Suicida" (de Raphael e Roberto) e "Apocalipse" (de Raphael e Rita), que vendeu menos de 200 cópias. Ainda naquele ano, Cláudio César, Raphael e Roberto deixariam o grupo. Arnaldo, Rita e Sérgio mantiveram o grupo, que foi rebatizado com o nome definitivo de Os Mutantes - por sugestão de Ronnie Von, que, naquela ocasião, lia "O Império dos Mutantes", (ficção científica de Stefan Wul).
Em 1967, Rogério Duprat, o maestro da Tropicália, os apresentou a Gilberto Gil. Apesar de nenhum dos Mutantes ler cifras e partituras musicais nem conhecer a complexidade harmônica dos arranjos elaborados por Gil e Duprat, a banda mandou muito bem nos ensaios e acabou participando da gravação de "Domingo no Parque", que ganhou o 2º lugar no terceiro Festival de Música Popular Brasileira 

No mesmo festival, Caetano Veloso apresentou “Alegria, Alegria” com a banda argentina Beat Boys, ficando em 4º.
A escolha de Caetano mostrou-se menos acertada do que a de Gil, e a partir daí, Os Mutantes caíram na graça do movimento Tropicalista, vencendo os argentinos, que sempre perdem para os brasileiros.
**** Digressão****
Em Maio de 1968, uma greve geral aconteceu na França. Rapidamente ela adquiriu significado e proporções revolucionárias. Alguns filósofos e historiadores afirmaram que essa rebelião foi o acontecimento revolucionário mais importante do século XX, por que não se deveu a uma camada restrita da população, como trabalhadores ou minorias, mas a uma insurreição popular que superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe.
Começou como uma série de greves estudantes que irromperam em algumas universidades e escolas de ensino secundário em Paris, após confrontos com a administração e a polícia. À tentativa do governo de de Gaulle de esmagar essas greves com mais ações policiais no Quartier Latin levou a uma escalada do conflito que culminou numa greve geral de estudantes e em greves com ocupações de fábricas em toda a França, às quais aderiram dez milhões de trabalhadores, aproximadamente dois terços dos trabalhadores franceses. Os protestos chegaram ao ponto de levar de Gaulle a criar um quartel general de operações militares para lidar com a insurreição, dissolver a Assembléia Nacional e marcar eleições parlamentares para 23 de Junho de 1968. Um de seus slogans mais famosos foi “Il est interdit d'interdire” (É proibido proibir).
 ****Fim da Digressão****
Em Junho de 1968, Os Mutantes participaram, ao lado de Caetano, Nara Leão, Torquato Neto, Rogério Duprat, Capinam, Tom Zé, Gil e Gal, de "Tropicália: ou Panis et Circencis", disco-manifesto do movimento tropicalista, gravando a faixa-título do LP.
Em setembro de 68, participaram do "III Festival Internacional da Canção" (FIC), da TV Bobo Globo, defendendo "Caminhante Noturno" (de Arnaldo, Sérgio e Rita), que acabou classificada em sétimo lugar. Mas o episódio mais emblemático daquele festival foi a apresentação de Caetano acompanhado dos Mutantes como banda de apoio.
Domingo, 15 de setembro de 1968. A apresentação de “É proibido proibir” entrou para a História naquela noite. Na final paulista do FIC, realizada no Teatro da Universidade Católica de São Paulo (TUCA), a música de Caetano foi recebida com furiosa vaia pelo público que lotava o auditório.
 Os Mutantes mal começaram a tocar a introdução da música e a platéia já atirava ovos, tomates e pedaços de madeira contra o palco. O provocativo Caetano apareceu vestido com roupas de plástico brilhante e colares exóticos. Entrou em cena rebolando, fazendo uma dança erótica que simulava os movimentos de uma relação sexual. Escandalizada, a platéia deu as costas para o palco. Ato contínuo... sem parar de tocar, Os Mutantes viraram as costas para o público.
Gil foi atingido na perna por um pedaço de madeira, mas não se rendeu. Em tom de deboche, mordeu um dos tomates jogados ao chão e devolveu o resto à irada platéia. Caetano fez um longo e inflamado discurso que quase não se podia ouvir, tamanho era o barulho dentro do teatro.
Guitarras em punho, ouviram uma das maiores vaias da história da música brasileira. Se não a maior, pelo menos a mais célebre. Irônico, ele cantava “Proibido Proibir”. As vaias eram contra as guitarras, que no imaginário da época maculavam a verdadeira MPB, eram sinal de alienação cultural.
Revoltado com a recepção, Caetano fez um longo e inflamado discurso que quase não se podia ouvir, por causa do barulho dentro do auditório.
Leia abaixo a transcrição do discurso:
Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder?
Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado!
São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem!
Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada.
Hoje não tem Fernando Pessoa.
Eu hoje vim dizer aqui, que quem teve coragem de assumir a estrutura de festival, não com o medo que o senhor Chico de Assis pediu, mas com a coragem, quem teve essa coragem de assumir essa estrutura e fazê-la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém, foi Gilberto Gil e fui eu!
Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém. Vocês são iguais sabem a quem? São iguais sabem a quem?
Tem som no microfone?
Vocês são iguais sabem a quem? Àqueles que foram na Roda Viva e espancaram os atores! Vocês não diferem em nada deles, vocês não diferem em nada. E por falar nisso, viva Cacilda Becker!
Viva Cacilda Becker! Eu tinha me comprometido a dar esse viva aqui, não tem nada a ver com vocês.
O problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar a música brasileira. O Maranhão apresentou, este ano, uma música com arranjo de charleston. Sabem o que foi? Foi a Gabriela do ano passado, que ele não teve coragem de, no ano passado, apresentar por ser americana. Mas eu e Gil já abrimos o caminho.
O que é que vocês querem? Eu vim aqui para acabar com isso!
Eu quero dizer ao júri: me desclassifique. Eu não tenho nada a ver com isso. Nada a ver com isso. Gilberto Gil. Gilberto Gil está comigo, para nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil. Acabar com tudo isso de uma vez. Nós só entramos no festival pra isso. Não é Gil? Não fingimos. Não fingimos aqui que desconhecemos o que seja festival, não. Ninguém nunca me ouviu falar assim. Entendeu?
Eu só queria dizer isso, baby. Sabe como é? Nós, eu e ele, tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas. E vocês? Se vocês forem... se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos! Me desclassifiquem junto com o Gil! junto com ele, tá entendendo?
E quanto a vocês... O júri é muito simpático, mas é incompetente.
Deus está solto!
(cantando) Me dê um beijo, meu amor, eles estão nos esperando, os automóveis ardem em chamas!
(declamando) Derrubar as prateleiras, as estantes, as estátuas, as vidraças, louças, livros, sim! E eu digo,
(gritando) sim! E eu digo, não ao não! E eu digo: (cantando) É Proibido proibir.
(Gritando histéricamente) Fora do tom, sem melodia. Como é júri? Não acertaram qualificar a melodia de Gilberto Gil? Ficaram por fora. Gil fundiu a cuca de vocês, hein? É assim que eu quero ver. Chega! ...

A letra da música, que nem chegou a ser ouvida naquela noite:
Proibido Proibir – Caetano Veloso
A mãe da virgem diz que não
E o anúncio da televisão
E estava escrito no portão
E o maestro ergueu o dedo
E além da porta
Há o porteiro, sim...
E eu digo não
E eu digo não ao não
Eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir...
Me dê um beijo, meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estantes, as estátuas
As vidraças, louças
Livros, sim...
E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo: É!
Proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir
É proibido proibir....
No final de 68, os Mutantes estiveram no "IV Festival da Música Popular Brasileira" da TV Record, defendendo "Dom Quixote" e "2001", esta última parceria de Rita Lee com Tom Zé .

Em 1969, os Mutantes realizaram o seu último show com Caetano e Gil. Foi durante a temporada na carioca boate Sucata, no qual ocorreu o famoso incidente da bandeira nacional, que, supostamente, fora desrespeitada, no entender dos militares que governavam o Brasil naquela época. Durante o espetáculo, foi pendurada no cenário do show uma bandeira, obra do artista plástico Hélio Oiticica, com a inscrição "Seja Marginal, Seja Herói", com a imagem de um traficante famoso naquela época, o Cara-de-Cavalo, que havia sido assassinado violentamente pela polícia. Os militares alegaram ainda que Caetano teria cantado o Hino Nacional inserindo versos ofensivos às Forças Armadas. Isto tudo serviria de pretexto político para que os militares suspendessem o show e prendessem Caetano e Gil, que acabaram sendo deportados. O episódio é considerado como o fim do movimento vanguardista.

Um comentário:

Tom França disse...

Usando a liberdade de expressão, penso que o jogo contra o ASA provavelmente foi o último que assisti esse ano no Frasqueirão.Pelo menos enquanto o fogueteiro estiver no comando. Tudo tem um limite.Com a Paciência não podia ser diferente.Todos sabem, que quando um jogador é contratado e principalmente quando está bem condicionado,é para suprir deficiências do grupo e entra imediatamente,até porque chega com muita vontade de mostrar serviço. Agora, Observem a forma como o treinador trata a torcida e a quem como eu, esteve no estádio na última terça.após as chegadas de Esquerdinha, Gladstone, Raulen(bom ala/lateral) e outros, o mesmo foi indagado por um repórter se iria relaciona-los para uma partida. Ele destilou a seguinte pérola: "eu não posso esquecer os que aqui estavam ralando, roendo o osso junto comigo e os preterir pelos que aqui estão chegando". É por essas e outras, que Renatinho(desde que voltou de contusão não disse a que veio) e Pedro Silva, estão jogando do jeito que querem, ou seja, Nada! Deixo aqui uma sugestão para àqueles que mexem com redes sociais, fazerem uma campanha: #foraademir! A Frasqueira disse não ao aluguel do Frasqueirão. Será que não temos poder para tirar treinador? Façam isso antes que a vaca vá pro brejo de vez! Temos direito, pois pagamos caro pra ter uma alegria e três tristezas a cada quatro jogos. Eles mesmos, os treinadores e jogadores, sabem que essa reinvidicação é correta quando a coisa não ta funcionando como deveria, ou como prometido pela diretoria: "vamos brigar na parte de cima da tabela", Lembram?