De estilingue a vidraça
Jornalista esportivo, executivo de futebol do ABC conta o que mudou na sua vida desde que saiu das redações para o mundo da cartolagem
14:00 24 de Fevereiro de 2013
DO NOVO JORNAL
A praia é o sonho de consumo do homem que vem profissionalizando o
futebol do ABC. Mas está difícil. O carioca Gustavo Mendes, 38 anos,
ainda não viu a cor da areia desde que assumiu o alvinegro no final do
ano passado. No domingo pós-eliminação da Copa do Nordeste, o jovem
cartola ficou no quase. Quando se preparou para encarar o mar de Ponta
Negra, choveu.
Gustavo está sempre correndo atrás de alguma coisa. Geralmente, pela função que ocupa hoje, a procura é por jogador. Apesar da pouca idade numa área onde experiência é tida como fundamental, passa a impressão de que sabe sempre o que quer. Bom de conversa, fala gesticulando e nem de longe lembra o dirigente travado que pediu calma à torcida diante
das cobranças por contratações em massa no início do ano.
A ambientação vem acontecendo aos poucos. Agitado, nega que seja vaidoso, mas vez por ou-
tra é flagrado ajeitando o cabelo para sair bem na foto. O primeiro diretor de futebol remunerado da história do ABC é inquieto. A convicção também faz parte do per fil de um excêntrico carioca que prefere o rock ao samba e é aficcionado por literatura policial. “É a mi-
nha grande paixão”, diz.
Se as críticas ele procura rebater com respostas rápidas e
trabalho, o estresse da profissão Gustavo espera vencer com o violão que
comprou semana passada. Quando não está no centro de treinamento
alvinegro, os livros e a música o distanciam da saudade da esposa
grávida que dará à luz no Rio de Janeiro e da filha de nove anos, fruto
do primeiro casamento.
Para ele, que vem de experiências conflituosas no Rio, Florianópolis e Recife, Natal é diferente.
“Aqui não tem a cidade do turista e a cidade do povo local. É tudo ao mesmo tempo agora, e isso é bom. Mas Natal também tem um tempo diferente das outras cidades. O bom é que não tem engarrafamento, mas também ainda não encontrei um choppinho”, brinca.
Gustavo Mendes é um exemplo de jornalista que virou cartola. Quatro anos depois de um bem-sucedido trabalho como assessor de imprensa do Fluminense, decidiu encarar um novo desafio. Na época do ex-presidente Roberto Horcades, foi alçado à função de gerente de futebol com apenas 30 anos de idade. Ouviu críticas de colegas, que o acusaram de mudar de personalidade, bateu de frente com dirigentes que não concordaram com os métodos implantados por ele nos clubes e colecionou mais dissabores que vitórias na carreira.
Gustavo é visto no mercado como um profissional mais competente na parte administrativa do que na montagem dos elencos. No tricolor carioca, onde foi campeão da série C como assessor
de imprensa e carioca no primeiro ano como gerente de futebol, acumulou duas passagens conturbadas. Entre uma e outra trabalhou no Macaé, interior do Rio, e depois do segundo e frustrante período no clube das Laranjeiras foi contratado pelo Náutico de onde saiu um ano
e meio depois até ser contratado pelo Avaí. Gustavo deixou o clube catarinense menos de um ano depois de assumir a direção de futebol do co-gestor que ajudava a administrar clube, que terminou rebaixado em 2011. “Eu saí antes da queda. O clube tinha dois diretores de futebol. O do clube e o do co-gestor que era eu. Um dia o presidente me disse que ia demitir o diretor dele e eu assumiria tudo. Um tempo depois tinha outro trabalhando no meu lugar comigo lá. O Avaí estava com dois meses de salário atrasado, aí complica. Mas é mais fácil culpar quem está fora”, lamentou.
Ao ABC, ele chegou indicado pelo técnico Givanildo de Oliveira com quem, aliás, Gustavo Men-
des nunca havia trabalhado até então. O presidente Rubens Guilherme afirma que o clube está muito satisfeito com a aquisição. “Precisávamos profissionalizar o futebol do ABC e procuramos um executivo com conhecimentos e bons relacionamentos no mercado. Surgiu o nome dele e outros. Givanildo indcou o Gustavo ele se mostrou uma pessoa muito preparada e educada”,
afirmou o cartola maior do alvinegro que espera contar com Mendes por bastante tempo. “Nos clubes existe a questão política que é muito danosa. E tem um câncer nos clubes que se chama vaidade, é que acaba com os clubes. Estamos gostando muito do Gustavo. Ele tem a opinião dele, respeitamos os limites dele, se dá bem com a gente e tem o espaço dele. Tem tudo para fazer trabalho a longo prazo", afirma.
Títulos, polêmicas e arrependimento no Flu
Nelson Rodrigues diria que Gustavo Mendes foi do céu e ao inferno no Fluminense. Hoje, o
diretor de futebol admite que não deseja passar nem em frente ao portão da sede do clube do
coração. Gustavo começou a carreira de gestor no tricolor carioca. Foram duas passagens: de 1999 a 2006 na primeira e um mês e meio, em 2009, na segunda, que lhe valeu uma autocrítica.
“Me arrependi da segunda vez, a gente também faz merda na vida”, dispara o ex-assessor de imprensa e ex-gerente de futebol do tricolor que se diz vítima da política interna do clube. Assessor de imprensa do clube desde 1999, Mendes recebeu um convite do então candidato à presidente do Fluminense, Roberto Horcades, para assumir a comunicação da campanha. E aceitou com uma condição: se vencesse a disputa, assumiria um cargo de gestor no futebol. Com a vitória do grupo de Horcades, a mudança de função a florou a inexperiência do jovem gestor, trouxe prestígio e o transformou em vidraça.
A reportagem ouviu vários jornalistas do Rio de Janeiro que trabalharam na cobertura do Fluminense na época em que Gustavo foi assessor de imprensa e gerente de futebol do tricolor. A maioria o elogiou como assessor, mas sobraram críticas em relação à postura como dirigente. “O Gustavo foi o cara que mais me decepcionou no futebol. Quando virou dirigente do Fluminense só fez sacanagem. Eu era um dos poucos que o defendia. Mas numa reunião com o Horcades, o Celso Barros e o Paulo Bering ele disse aos três que não dava para confiar em mim porque eu era um leva e traz. Ele só não esperava que eu também fosse um jornalista de boa relação com as pessoas e viessem me contar na mesma hora: ‘olha, o Gustavo está te fodendo no conselho diretor’. Depois disso rompemos relação”, afirmou um colega dele que hoje trabalha no jornal O Dia e só aceitou falar sob a condição do anonimato.
O jornalista acredita que a mudança de função e o título carioca conquistado em 2004
logo nos primeiros meses do ano contribuíram para a nova postura de Mendes. “Ele se achou
o Rodrigo Caetano (atual diretor de futebol do Fluminense), o bam bam bam e passou a esnobar as pessoas. Só que trocou os pés pelas mãos, a carreira foi por água abaixo, começou a fazer
contratações suspeitas e acabou perdendo o respeito”, criticou o colega que lembra de Mendes
batendo de frente com o atual grupo que comanda o Fluminense.
“As forças políticas do clube se uniram e o Peter Simonsen (atual presidente) disse que só
participaria se o Gustavo saísse e o Alcides Antunes entrasse”, disse. Apesar de apontar os erros
do colega, o jornalista também vê qualidades em Mendes como dirigente. “O Gustavo é um cara
muito inteligente, conhece muito futebol. Ele está nessa área há vários anos e como no futebol
não tem santo talvez possa vir a somar”, encerrou.
A jornalista Marluce Martins, hoje repórter e colunista do Extra, jornal popular do grupo Globo, lembra de Gustavo apenas como bom jornalista. “Tivemos uma relação boa. Lembro que ele era um bom jornalista, tinha bons contatos e apurava muito bem. Fizemos uma pré-temporada juntos no Flamengo em 1995. Mas como dirigente não me recordo porque ele saiu logo”, contou.
Do portal Globo Esporte.com, o repórter Edgard Maciel de Sá lembra que, na segunda e mal-sucedida passagem pelo Fluminense, Gustavo saiu do clube em 2009 antes da famosa
arrancada contra o rebaixamento.
Ainda assim, se envolveu numa polêmica com o coordenador do departamento médico do clube,
Michel Simoni. “A informação é que o Gustavo estava por trás da saída do Michel. Tanto que
o Michel voltou depois que o Gustavo saiu”, comentou.
"Eu gostaria de ser julgado pelo meu trabalho"
Gustavo Mendes sabe que as críticas disparadas pelos colegas não são de hoje. E admite ter errado algumas vezes. Porém, nega que tenha entregado jornalista e diz que se ‘exagerou’ no distanciamento dos ex-colegas, os jornalistas que cobriam o Fluminense também não entenderam que a mudança de função pedia outra postura. “Essa coisa de leva e traz está provado que é mentira. Mas eu cansei de discutir com eles (jornalistas) sobre minha postura. Eles não entenderam que eu fui para o outro lado, o da vidraça onde tenho que ter um distanciamento. Talvez eu tenha me distanciado demais, acho até que exagerei, mas eles também tinham que ter entendido o meu lado”, comentou o dirigente que ainda fez um desabafo: “O pessoal diz que eu me distanciei e isso afeta o julgamento do trabalho. Eu gostaria de ser
julgado pelo meu trabalho e não pelo que você pensa do meu comportamento em relação
a você pessoa. Mas respeito a opinião de cada um”, afirmou.
Sobre a polêmica relatada pelo colega com Michel Simoni, Mendes explica que houve duas situações distintas mas garante que em nenhuma delas foi responsável pela saída do
coordenador médico tricolor. “Da primeira vez ele pediu demissão porque achava que o
Horcades ia tirá-lo, mas não ia. O Horcades até tinha vontade, mas não ia ter coragem. Mas
saiu. E quatro meses depois eu nós sentamos e ele pediu para voltar. E aí sim eu disse que
aquela não era a hora. Ele ficou muito chateado. Fui embora, ele voltou e nos reencontramos
em 2009 quando teve o episódio com o Urrutia (equatoriano comprado da LDU). Nos exames
médicos o Simoni reprovou o Urrutia por problemas no joelho. O Tote (vice-presidente) anunciou que o jogador estava descartado, mas o Celso Barros, que também é médico, pediu para reexaminá-lo. Aí viram que ele tinha condições. Então o Tote contratou o Urrutia e demitiu o Michel. Na mesma noite eu liguei para o Tote e disse que ele estava fazendo besteira, que não estava certo, e até hoje tenho boa relação com o Michel”, contou.
Amigos e desafetos no Naútico
Jamais convide para a mesma mesa o carioca Gustavo Mendes e o pernambucano Roberto Fernandes. O diretor de futebol do ABC e o treinador que até antes do carnaval comandava o
América não se bicam. O clima azedou durante a passagem de Gustavo pelo Náutico, em 2010 e
2011. Roberto não era o único que queria ver o carioca longe do clube. Dos sete diretores do Timbu, apenas dois defendiam as posi-ções de Mendes. A briga era, também, com os diretores amadores do clube, os não remunerados. O presidente do Náutico na época era Berilo Júnior, responsável pela contratação de Gustavo Mendes depois de analisar cinco currículos. “É um excelente profissional, de caráter. Tem uma personalidade forte e é muito competente”, elogiou o ex-presidente.
Segundo o cartola, Gustavo Mendes foi muito importante para o Náutico na parte administrativa do clube. “Ele me ajudou muito, implantou coisas em relação à utilização dos campos de treinamento que até hoje funcionam tanto para os profissionais como para a divisão de base”,
disse o cartola que foi convencido pelo diretor pelo projeto. “Ele tinha um projeto montado para o Náutico que batia muito com os pensamentos que eu tinha. Analisei cinco currículos antes de contratá-lo”, contou.
Como presidente de clube, Berilo Júnior é contra dar autonomia integral ao diretor de futebol
para contratar jogadores. Ainda assim, lembra que foi por intermédio de Gustavo Mendes que o
atacante Kieza, hoje principal referência no time, chegou ao Náutico. “A montagem do time é sempre em parceria com a comissão técnica. O Kieza estava encostado em 2011 no Cruzeiro ganhando R$ 35 mil. Veio para o Náutico e ficamos pagando 50% do salário dele”, disse.
POLÊMICAS
Berilo analisa de forma diferente as polêmicas de Gustavo com Roberto Fernandes e com
ala não remunerada da diretoria. Com o treinador, a questão era de filosofia. Na queda de braço, Roberto foi demitido. “O Roberto e o Gustavo não se davam bem. Mas não houve uma briga, a divergência era de idéias. O problema era na filosofia de trabalho, na prática e na logística”, lembra.
Já com a maioria dos diretores que queria a cabeça do carioca, o cartola interpreta como ‘briga de vaidades’. Berilo segurou Gustavo o quanto pode. Para ele, o ego é a parte mais complicada de se administrar no futebol. “Uma parte da diretoria não queria a permanência do Gustavo. Na verdade, existe uma vaidade muito grande entre os diretores abnegados, que não são remunerados, e os remunerados. O dirigente perde 80% do tempo tendo que administrar
vaidades de homens no futebol”,comentou.
Fora Roberto Fernandes
Mesmo incomodado em voltar a falar sobre o assunto, Gustavo Mendes é sincero. Ele não queria trabalhar com o Roberto Fernandes no Náutico. Porém, na época, a história do técnico com o
clube falou mais alto e os dois tiveram que trabalhar juntos. O diretor de futebol jura que nunca teve problema pessoal com o treinador, apenas preferia outros nomes. “Eu queria outro nome, é um direito meu. Ele não aceitou quando chegou, ficou bastante irritado comigo. Acho que pela história dele no clube o cara se sente mais importante. Mas ele é que teve problema comigo desde que chegou. Mas da minha parte nunca faltou respeito, colaboração profissional e
qualidade no trabalho”, afirmou.Os problemas com a diretoria também aumentaram o desgaste dele no clube. Gustavo lembra que precisou mudar a forma como a estrutura administrativa do Náutico funcionava.
Por conta disso, acredita que mexeu em casa de maribondo. “O supervisor é o cara que cuida da logística e tinha que estar no treinamento. Mas não ia ao treino porque dizia que não precisava.
Mas e se acontece alguma coisa? Eu não quero um cara desse. Quando cheguei no Náutico, tinha coisas impossíveis. Precisei mudar muita coisa”, conta. Indagado sobre a ‘guerra de vaidades’ citada pelo ex-presidente Berilo Júnior, ele faz uma ressalva. “Se o problema era esse, o ego não era da minha parte. Eu dizia que não estava ali para dizer ‘sim’. Mas para dizer ‘sim’, ‘não’, ‘talvez’, ‘vamos por outro lado’. Mas quer saber? Eu estava certo. Um dos diretores era empresário de jogador e isso eu não aceitava. Outro, um mês depois que saí, brigou com
todo mundo. E ainda tinha o treinador que minava o meu trabalho, que não aceitava, que achava que tinha que fazer tudo, aí é complicado”, desabafou fazendo referência ao desafeto Roberto
Fernandes. O NOVO JORNAL ligou para Roberto Fernandes, sem clube após sair do América, mas ele não quis falar sobre dirigente. “Eu não falo sobre o Gustavo Mendes”, disse, sucinto, por telefone.
Gustavo está sempre correndo atrás de alguma coisa. Geralmente, pela função que ocupa hoje, a procura é por jogador. Apesar da pouca idade numa área onde experiência é tida como fundamental, passa a impressão de que sabe sempre o que quer. Bom de conversa, fala gesticulando e nem de longe lembra o dirigente travado que pediu calma à torcida diante
das cobranças por contratações em massa no início do ano.
A ambientação vem acontecendo aos poucos. Agitado, nega que seja vaidoso, mas vez por ou-
tra é flagrado ajeitando o cabelo para sair bem na foto. O primeiro diretor de futebol remunerado da história do ABC é inquieto. A convicção também faz parte do per fil de um excêntrico carioca que prefere o rock ao samba e é aficcionado por literatura policial. “É a mi-
nha grande paixão”, diz.
Foto: Eduardo Maia/NJ.
Gustavo Mendes
“Aqui não tem a cidade do turista e a cidade do povo local. É tudo ao mesmo tempo agora, e isso é bom. Mas Natal também tem um tempo diferente das outras cidades. O bom é que não tem engarrafamento, mas também ainda não encontrei um choppinho”, brinca.
Gustavo Mendes é um exemplo de jornalista que virou cartola. Quatro anos depois de um bem-sucedido trabalho como assessor de imprensa do Fluminense, decidiu encarar um novo desafio. Na época do ex-presidente Roberto Horcades, foi alçado à função de gerente de futebol com apenas 30 anos de idade. Ouviu críticas de colegas, que o acusaram de mudar de personalidade, bateu de frente com dirigentes que não concordaram com os métodos implantados por ele nos clubes e colecionou mais dissabores que vitórias na carreira.
Gustavo é visto no mercado como um profissional mais competente na parte administrativa do que na montagem dos elencos. No tricolor carioca, onde foi campeão da série C como assessor
de imprensa e carioca no primeiro ano como gerente de futebol, acumulou duas passagens conturbadas. Entre uma e outra trabalhou no Macaé, interior do Rio, e depois do segundo e frustrante período no clube das Laranjeiras foi contratado pelo Náutico de onde saiu um ano
e meio depois até ser contratado pelo Avaí. Gustavo deixou o clube catarinense menos de um ano depois de assumir a direção de futebol do co-gestor que ajudava a administrar clube, que terminou rebaixado em 2011. “Eu saí antes da queda. O clube tinha dois diretores de futebol. O do clube e o do co-gestor que era eu. Um dia o presidente me disse que ia demitir o diretor dele e eu assumiria tudo. Um tempo depois tinha outro trabalhando no meu lugar comigo lá. O Avaí estava com dois meses de salário atrasado, aí complica. Mas é mais fácil culpar quem está fora”, lamentou.
Ao ABC, ele chegou indicado pelo técnico Givanildo de Oliveira com quem, aliás, Gustavo Men-
des nunca havia trabalhado até então. O presidente Rubens Guilherme afirma que o clube está muito satisfeito com a aquisição. “Precisávamos profissionalizar o futebol do ABC e procuramos um executivo com conhecimentos e bons relacionamentos no mercado. Surgiu o nome dele e outros. Givanildo indcou o Gustavo ele se mostrou uma pessoa muito preparada e educada”,
afirmou o cartola maior do alvinegro que espera contar com Mendes por bastante tempo. “Nos clubes existe a questão política que é muito danosa. E tem um câncer nos clubes que se chama vaidade, é que acaba com os clubes. Estamos gostando muito do Gustavo. Ele tem a opinião dele, respeitamos os limites dele, se dá bem com a gente e tem o espaço dele. Tem tudo para fazer trabalho a longo prazo", afirma.
Títulos, polêmicas e arrependimento no Flu
Nelson Rodrigues diria que Gustavo Mendes foi do céu e ao inferno no Fluminense. Hoje, o
diretor de futebol admite que não deseja passar nem em frente ao portão da sede do clube do
coração. Gustavo começou a carreira de gestor no tricolor carioca. Foram duas passagens: de 1999 a 2006 na primeira e um mês e meio, em 2009, na segunda, que lhe valeu uma autocrítica.
“Me arrependi da segunda vez, a gente também faz merda na vida”, dispara o ex-assessor de imprensa e ex-gerente de futebol do tricolor que se diz vítima da política interna do clube. Assessor de imprensa do clube desde 1999, Mendes recebeu um convite do então candidato à presidente do Fluminense, Roberto Horcades, para assumir a comunicação da campanha. E aceitou com uma condição: se vencesse a disputa, assumiria um cargo de gestor no futebol. Com a vitória do grupo de Horcades, a mudança de função a florou a inexperiência do jovem gestor, trouxe prestígio e o transformou em vidraça.
A reportagem ouviu vários jornalistas do Rio de Janeiro que trabalharam na cobertura do Fluminense na época em que Gustavo foi assessor de imprensa e gerente de futebol do tricolor. A maioria o elogiou como assessor, mas sobraram críticas em relação à postura como dirigente. “O Gustavo foi o cara que mais me decepcionou no futebol. Quando virou dirigente do Fluminense só fez sacanagem. Eu era um dos poucos que o defendia. Mas numa reunião com o Horcades, o Celso Barros e o Paulo Bering ele disse aos três que não dava para confiar em mim porque eu era um leva e traz. Ele só não esperava que eu também fosse um jornalista de boa relação com as pessoas e viessem me contar na mesma hora: ‘olha, o Gustavo está te fodendo no conselho diretor’. Depois disso rompemos relação”, afirmou um colega dele que hoje trabalha no jornal O Dia e só aceitou falar sob a condição do anonimato.
O jornalista acredita que a mudança de função e o título carioca conquistado em 2004
logo nos primeiros meses do ano contribuíram para a nova postura de Mendes. “Ele se achou
o Rodrigo Caetano (atual diretor de futebol do Fluminense), o bam bam bam e passou a esnobar as pessoas. Só que trocou os pés pelas mãos, a carreira foi por água abaixo, começou a fazer
contratações suspeitas e acabou perdendo o respeito”, criticou o colega que lembra de Mendes
batendo de frente com o atual grupo que comanda o Fluminense.
“As forças políticas do clube se uniram e o Peter Simonsen (atual presidente) disse que só
participaria se o Gustavo saísse e o Alcides Antunes entrasse”, disse. Apesar de apontar os erros
do colega, o jornalista também vê qualidades em Mendes como dirigente. “O Gustavo é um cara
muito inteligente, conhece muito futebol. Ele está nessa área há vários anos e como no futebol
não tem santo talvez possa vir a somar”, encerrou.
A jornalista Marluce Martins, hoje repórter e colunista do Extra, jornal popular do grupo Globo, lembra de Gustavo apenas como bom jornalista. “Tivemos uma relação boa. Lembro que ele era um bom jornalista, tinha bons contatos e apurava muito bem. Fizemos uma pré-temporada juntos no Flamengo em 1995. Mas como dirigente não me recordo porque ele saiu logo”, contou.
Do portal Globo Esporte.com, o repórter Edgard Maciel de Sá lembra que, na segunda e mal-sucedida passagem pelo Fluminense, Gustavo saiu do clube em 2009 antes da famosa
arrancada contra o rebaixamento.
Ainda assim, se envolveu numa polêmica com o coordenador do departamento médico do clube,
Michel Simoni. “A informação é que o Gustavo estava por trás da saída do Michel. Tanto que
o Michel voltou depois que o Gustavo saiu”, comentou.
"Eu gostaria de ser julgado pelo meu trabalho"
Gustavo Mendes sabe que as críticas disparadas pelos colegas não são de hoje. E admite ter errado algumas vezes. Porém, nega que tenha entregado jornalista e diz que se ‘exagerou’ no distanciamento dos ex-colegas, os jornalistas que cobriam o Fluminense também não entenderam que a mudança de função pedia outra postura. “Essa coisa de leva e traz está provado que é mentira. Mas eu cansei de discutir com eles (jornalistas) sobre minha postura. Eles não entenderam que eu fui para o outro lado, o da vidraça onde tenho que ter um distanciamento. Talvez eu tenha me distanciado demais, acho até que exagerei, mas eles também tinham que ter entendido o meu lado”, comentou o dirigente que ainda fez um desabafo: “O pessoal diz que eu me distanciei e isso afeta o julgamento do trabalho. Eu gostaria de ser
julgado pelo meu trabalho e não pelo que você pensa do meu comportamento em relação
a você pessoa. Mas respeito a opinião de cada um”, afirmou.
Sobre a polêmica relatada pelo colega com Michel Simoni, Mendes explica que houve duas situações distintas mas garante que em nenhuma delas foi responsável pela saída do
coordenador médico tricolor. “Da primeira vez ele pediu demissão porque achava que o
Horcades ia tirá-lo, mas não ia. O Horcades até tinha vontade, mas não ia ter coragem. Mas
saiu. E quatro meses depois eu nós sentamos e ele pediu para voltar. E aí sim eu disse que
aquela não era a hora. Ele ficou muito chateado. Fui embora, ele voltou e nos reencontramos
em 2009 quando teve o episódio com o Urrutia (equatoriano comprado da LDU). Nos exames
médicos o Simoni reprovou o Urrutia por problemas no joelho. O Tote (vice-presidente) anunciou que o jogador estava descartado, mas o Celso Barros, que também é médico, pediu para reexaminá-lo. Aí viram que ele tinha condições. Então o Tote contratou o Urrutia e demitiu o Michel. Na mesma noite eu liguei para o Tote e disse que ele estava fazendo besteira, que não estava certo, e até hoje tenho boa relação com o Michel”, contou.
Amigos e desafetos no Naútico
Jamais convide para a mesma mesa o carioca Gustavo Mendes e o pernambucano Roberto Fernandes. O diretor de futebol do ABC e o treinador que até antes do carnaval comandava o
América não se bicam. O clima azedou durante a passagem de Gustavo pelo Náutico, em 2010 e
2011. Roberto não era o único que queria ver o carioca longe do clube. Dos sete diretores do Timbu, apenas dois defendiam as posi-ções de Mendes. A briga era, também, com os diretores amadores do clube, os não remunerados. O presidente do Náutico na época era Berilo Júnior, responsável pela contratação de Gustavo Mendes depois de analisar cinco currículos. “É um excelente profissional, de caráter. Tem uma personalidade forte e é muito competente”, elogiou o ex-presidente.
Segundo o cartola, Gustavo Mendes foi muito importante para o Náutico na parte administrativa do clube. “Ele me ajudou muito, implantou coisas em relação à utilização dos campos de treinamento que até hoje funcionam tanto para os profissionais como para a divisão de base”,
disse o cartola que foi convencido pelo diretor pelo projeto. “Ele tinha um projeto montado para o Náutico que batia muito com os pensamentos que eu tinha. Analisei cinco currículos antes de contratá-lo”, contou.
Como presidente de clube, Berilo Júnior é contra dar autonomia integral ao diretor de futebol
para contratar jogadores. Ainda assim, lembra que foi por intermédio de Gustavo Mendes que o
atacante Kieza, hoje principal referência no time, chegou ao Náutico. “A montagem do time é sempre em parceria com a comissão técnica. O Kieza estava encostado em 2011 no Cruzeiro ganhando R$ 35 mil. Veio para o Náutico e ficamos pagando 50% do salário dele”, disse.
POLÊMICAS
Berilo analisa de forma diferente as polêmicas de Gustavo com Roberto Fernandes e com
ala não remunerada da diretoria. Com o treinador, a questão era de filosofia. Na queda de braço, Roberto foi demitido. “O Roberto e o Gustavo não se davam bem. Mas não houve uma briga, a divergência era de idéias. O problema era na filosofia de trabalho, na prática e na logística”, lembra.
Já com a maioria dos diretores que queria a cabeça do carioca, o cartola interpreta como ‘briga de vaidades’. Berilo segurou Gustavo o quanto pode. Para ele, o ego é a parte mais complicada de se administrar no futebol. “Uma parte da diretoria não queria a permanência do Gustavo. Na verdade, existe uma vaidade muito grande entre os diretores abnegados, que não são remunerados, e os remunerados. O dirigente perde 80% do tempo tendo que administrar
vaidades de homens no futebol”,comentou.
Fora Roberto Fernandes
Mesmo incomodado em voltar a falar sobre o assunto, Gustavo Mendes é sincero. Ele não queria trabalhar com o Roberto Fernandes no Náutico. Porém, na época, a história do técnico com o
clube falou mais alto e os dois tiveram que trabalhar juntos. O diretor de futebol jura que nunca teve problema pessoal com o treinador, apenas preferia outros nomes. “Eu queria outro nome, é um direito meu. Ele não aceitou quando chegou, ficou bastante irritado comigo. Acho que pela história dele no clube o cara se sente mais importante. Mas ele é que teve problema comigo desde que chegou. Mas da minha parte nunca faltou respeito, colaboração profissional e
qualidade no trabalho”, afirmou.Os problemas com a diretoria também aumentaram o desgaste dele no clube. Gustavo lembra que precisou mudar a forma como a estrutura administrativa do Náutico funcionava.
Por conta disso, acredita que mexeu em casa de maribondo. “O supervisor é o cara que cuida da logística e tinha que estar no treinamento. Mas não ia ao treino porque dizia que não precisava.
Mas e se acontece alguma coisa? Eu não quero um cara desse. Quando cheguei no Náutico, tinha coisas impossíveis. Precisei mudar muita coisa”, conta. Indagado sobre a ‘guerra de vaidades’ citada pelo ex-presidente Berilo Júnior, ele faz uma ressalva. “Se o problema era esse, o ego não era da minha parte. Eu dizia que não estava ali para dizer ‘sim’. Mas para dizer ‘sim’, ‘não’, ‘talvez’, ‘vamos por outro lado’. Mas quer saber? Eu estava certo. Um dos diretores era empresário de jogador e isso eu não aceitava. Outro, um mês depois que saí, brigou com
todo mundo. E ainda tinha o treinador que minava o meu trabalho, que não aceitava, que achava que tinha que fazer tudo, aí é complicado”, desabafou fazendo referência ao desafeto Roberto
Fernandes. O NOVO JORNAL ligou para Roberto Fernandes, sem clube após sair do América, mas ele não quis falar sobre dirigente. “Eu não falo sobre o Gustavo Mendes”, disse, sucinto, por telefone.
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